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Operação Agrofraude: Polícia Civil de Rio Preto desarticula rede milionária de agrotóxicos falsos, lavagem de dinheiro e uso de "laranjas"
Investigação de seis meses da DEIC revela esquema sofisticado que utilizava empresas de fachada em nome de pessoas comuns para movimentar milhões. Justiça bloqueia bens dos suspeitos.
Por Toca Som
Publicado em 25/10/2025 11:17 • Atualizado 25/10/2025 11:22
CIDADES
Operação Agrofraude Polícia Civil de Rio Preto desarticula rede milionária de agrotóxicos falsos, lavagem de dinheiro e uso de laranjas

Uma investigação complexa de seis meses, conduzida pela Polícia Civil de São José do Rio Preto, culminou na manhã desta sexta-feira (24) na "Operação Agrofraude". A ação expôs um esquema criminoso milionário que ia muito além da venda de produtos ilegais, abrangendo falsificação de defensivos agrícolas, criação de empresas de fachada, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A operação, liderada pela 3ª Equipe da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG), parte da Divisão Especializada em Investigações Criminais (DEIC), mobilizou agentes para o cumprimento de nove mandados de busca e apreensão em diversos bairros e condomínios de classe média e alta da cidade, incluindo o Alta Vista, Rios de Itália, Vila Flora, Jandira e Residencial das Américas.

Do Comércio Ilegal à Organização Criminosa 

Segundo o delegado titular da investigação, Dr. Adriano Pitóscia, o inquérito teve início em abril deste ano, focado inicialmente em denúncias sobre a comercialização irregular de agrotóxicos. Contudo, a apuração revelou uma estrutura muito mais profunda.

"Inicialmente, apurávamos apenas o comércio ilegal de agrotóxicos, mas, no decorrer das investigações, identificamos a prática de outros crimes, especialmente lavagem de dinheiro e organização criminosa", explicou o delegado Pitóscia.

Isso significa que o grupo não apenas vendia produtos ilegais, mas também havia montado uma estrutura complexa para esconder a origem do dinheiro e operar como uma verdadeira empresa do crime.

O Esquema de Fachada: Entendendo os "Laranjas" e a Lavagem de Dinheiro 

Para o leitor leigo, o ponto mais sofisticado da fraude era o método usado para "limpar" o dinheiro sujo, um processo conhecido como lavagem de dinheiro.

O delegado Pitóscia detalhou como os criminosos criaram múltiplas empresas em nome de "laranjas". No jargão policial, "laranjas" são pessoas (muitas vezes de baixa renda ou sem conhecimento pleno dos fatos) que "emprestam" seus nomes e CPFs para figurar como proprietários legais de empresas e contas bancárias, ocultando os verdadeiros chefes do esquema.

O objetivo era dar uma aparência legal ao negócio ilícito. "Essas empresas de fachada emitiam notas fiscais e movimentavam grandes valores em contas bancárias", afirmou Pitóscia.

A investigação revelou a discrepância gritante entre os "sócios" e o capital movimentado. "Identificamos que pessoas comuns, como um azulejista e uma atendente de lanchonete, apareciam como sócios de companhias milionárias", detalhou o delegado.

Para manter essa farsa contábil, o grupo contava com o apoio essencial de um contador. Este profissional era o responsável por abrir as empresas fraudulentas e, crucialmente, manipular os balanços fiscais, "maquiando" as finanças para disfarçar a origem ilícita dos recursos.

O Risco Além do Financeiro: Agrotóxicos Falsificados

A investigação confirmou que o núcleo do esquema era a falsificação de agrotóxicos. O grupo não apenas revendia produtos de forma irregular, mas também os falsificava, armazenava de forma inadequada e distribuía.

Esse tipo de crime representa um perigo triplo:

  1. Para o Agricultor: Ele compra um produto acreditando em sua eficácia, mas o defensivo falso pode destruir sua lavoura, causando prejuízos incalculáveis.

  2. Para o Meio Ambiente: Produtos químicos sem controle, misturados sem critério técnico, podem contaminar o solo e os lençóis freáticos.

  3. Para o Consumidor: Resíduos de substâncias desconhecidas podem permanecer nos alimentos que chegam à mesa da população.

"Esse comércio ilegal de agrotóxico envolvia a falsificação do produto, o armazenamento e, posteriormente, o comércio. As vendas ocorriam aqui no município de São José do Rio Preto, na região e em outros estados também", concluiu Pitóscia, indicando o alcance interestadual da rede.

Próximos Passos: Perícia e Bloqueio de Bens

Como resultado imediato da "Operação Agrofraude", a Justiça determinou o bloqueio das contas bancárias e a indisponibilidade dos bens dos principais suspeitos. Na prática, isso impede que eles movimentem o dinheiro ou vendam propriedades adquiridas com os lucros do crime.

Durante as buscas nos condomínios, os policiais apreenderam uma grande quantidade de material que servirá como prova: documentos diversos, equipamentos de informática, veículos e aparelhos celulares.

"Foram apreendidos documentos, equipamentos de informática e aparelhos celulares que agora serão encaminhados à perícia técnica", afirmou Pitóscia. A análise forense desses dispositivos é crucial, pois peritos tentarão recuperar mensagens, planilhas financeiras e conexões que podem levar a outros membros da organização.

Os investigados, incluindo os supostos "laranjas", funcionários do setor financeiro e os apontados como verdadeiros donos do esquema, foram levados à sede da DEIC para prestar depoimento.

"Todos serão ouvidos formalmente, e o inquérito seguirá em andamento. O próximo passo é concluir as oitivas e analisar o conteúdo apreendido para entender a participação de cada um, haja vista a complexidade do esquema", finalizou o delegado.


Fontes e Referências:

  • Fonte Primária: As informações factuais e aspas do delegado Adriano Pitóscia foram fornecidas pela Polícia Civil de São José do Rio Preto (DEIC/DIG), por meio de seus canais de divulgação oficiais.

  • Fonte de Apuração Original: A cobertura inicial que baseou esta reportagem foi realizada pelo portal DHoje Interior, em matéria assinada pela jornalista Danielle Molnar.

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